*Por
Wagner Barja
Revelar o sentido da arte é tarefa difícil
quando se traduzem estas revelações de dentro da própria obra.
Herê Fonseca extrai da escuridão as imagens
que vão revelar de dentro de um cubo negro, o amálgama de uma plástica que
externa e formaliza sem recursos intermediários, a linguagem primitiva do
desenho.
São
exibidos aqueles desenhos fluídicos e extremamente descomprometidos de um
pretensioso e esmerado acabamento, expressivos devaneios, que todo artista
vocacionado nesta linguagem pratica à revelia e, livremente os elabora sem
muito planejamento.
Normalmente,
estas espécies de desenhos nunca são trazidas a publico, eles ficam arquivados
em pastas e permanecem numa região de limbo, excêntricos a toda produção
visível do artista. Mas aqui, ao contrário do lugar comum do esquecimento e da
invisibilidade, Herê teima em revelar e mostrar sem pudores, o que para o
público ficaria invisível, Esta é uma parte do seu mundo inconsciente que num
total exercício de liberdade é traduzida apropriadamente no interior de um
obscuro cubo negro, substantivo geométrico, que envolve e protege a idéia que
re-qualifica a exposição.
O
artista recorre à metáfora do elemento “caixa preta” para exibir, ou melhor,
externar seu inconsciente através de desenhos monocromáticos.
Numa
possível retro- leitura da “caverna de Platão” provoca-se o visitante a fazer
uso de lanternas, para poder ver as imagens.
Há de se ter algum esforço para enxergar, para se perceber e assimilar o
conjunto gráfico no interior do cubo/caverna. É necessário também alguma dose
de cegueira para se entender este
insensato mundo.
Herê
Fonseca é um intuitivo, em arte, raramente planeja o que faz, pois há em sua
mente um arquivo dinâmico, sempre a funcionar, num constante acender e apagar
de lanternas para o que deseja iluminar e comunicar, sempre por meio do traço
livre e despretensioso do desenho.
Curiosamente
há neste recente projeto de Herê Fonseca um diferenciado planejamento, onde a
estrutura geométrica do cubo negro é utilizada para abrigar e reafirmar a livre
e informal expressão de linguagem do desenho, mas também deixa um pouco à
deriva o percurso do visitante. Como se quisesse o artista, revelar também o
complexo e rico mecanismo de sua mente e, por inteiro, nos permitir penetrar no
espaço de sua personalidade.
*
Wagner Barja – é artista plástico, Mestre em Arte e Tecnologia das Imagens pela
Universidade de Brasilia – Notório Saber em Plástica – História e Teoria da
Arte – Arte-Educação, conferido pelo Conselho Superior de Educação / MEC. Curador e crítico. Atualmente dirige o Museu
Nacional do Conjunto Cultural da República, em Brasília
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