quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Forma e escuridão


*Por Wagner Barja
Revelar o sentido da arte é tarefa difícil quando se traduzem estas revelações de dentro da própria obra.
 Herê Fonseca extrai da escuridão as imagens que vão revelar de dentro de um cubo negro, o amálgama de uma plástica que externa e formaliza sem recursos intermediários, a linguagem primitiva do desenho. 
São exibidos aqueles desenhos fluídicos e extremamente descomprometidos de um pretensioso e esmerado acabamento, expressivos devaneios, que todo artista vocacionado nesta linguagem pratica à revelia e, livremente os elabora sem muito planejamento.
Normalmente, estas espécies de desenhos nunca são trazidas a publico, eles ficam arquivados em pastas e permanecem numa região de limbo, excêntricos a toda produção visível do artista. Mas aqui, ao contrário do lugar comum do esquecimento e da invisibilidade, Herê teima em revelar e mostrar sem pudores, o que para o público ficaria invisível, Esta é uma parte do seu mundo inconsciente que num total exercício de liberdade é traduzida apropriadamente no interior de um obscuro cubo negro, substantivo geométrico, que envolve e protege a idéia que re-qualifica a exposição.
O artista recorre à metáfora do elemento “caixa preta” para exibir, ou melhor, externar seu inconsciente através de desenhos monocromáticos.
Numa possível retro- leitura da “caverna de Platão” provoca-se o visitante a fazer uso de lanternas, para poder ver as imagens.  Há de se ter algum esforço para enxergar, para se perceber e assimilar o conjunto gráfico no interior do cubo/caverna. É necessário também alguma dose de cegueira para se entender este  insensato mundo.


Herê Fonseca é um intuitivo, em arte, raramente planeja o que faz, pois há em sua mente um arquivo dinâmico, sempre a funcionar, num constante acender e apagar de lanternas para o que deseja iluminar e comunicar, sempre por meio do traço livre e despretensioso do desenho.
Curiosamente há neste recente projeto de Herê Fonseca um diferenciado planejamento, onde a estrutura geométrica do cubo negro é utilizada para abrigar e reafirmar a livre e informal expressão de linguagem do desenho, mas também deixa um pouco à deriva o percurso do visitante. Como se quisesse o artista, revelar também o complexo e rico mecanismo de sua mente e, por inteiro, nos permitir penetrar no espaço de sua personalidade.


* Wagner Barja – é artista plástico, Mestre em Arte e Tecnologia das Imagens pela Universidade de Brasilia – Notório Saber em Plástica – História e Teoria da Arte – Arte-Educação, conferido pelo Conselho Superior de Educação / MEC.  Curador e crítico. Atualmente dirige o Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, em Brasília

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